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Mostrando postagens de 2006

Requiem - Número Um

Réquiem Opus 1 Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Meus olhos passeiam por essa larga necrópole, Procurando mortos-vivos... sombras...pios noturnos. Vou caminhando sobre ossos. Tíbias, perônios e crânios rompem-se aos meus pés, Tais quais cacos de porcelana, Louça fina e branca, enfiando-se na carne. O vento frio emoldura-me a face de mármore, Aumentando este silêncio que não incomoda, Enquanto acariciam-me os frios dedos da morte. Apenas túmulos. Túmulos sepultando verdade. E a verdade é carne. Apenas isto: carne. A carne dos sonhos, as fibras, os nervos e o sangue Forjando a realidade pesadelo. Piso mais uma sepultura, Apóio-me numa cruz, negra de ferrugem, consumindo-se... Fugindo... Fugindo dos homens que antes quisera salvar...dissolvendo-se... Abaixo de mim, a lado de mim, atrás de mim, em frente de mim... Cadáveres! Carne data vermes... Cadáveres! Rogo para Deus que descansem em paz, pela eternidade! Que os mortos repousem em merecida sonolência...pro

Contrato de Namoro

Prometo Ser o homem dos seus sonhos ... se você sonhar comigo Te ouvir. com o coração, antes de ouvir qualquer outra pessoa Concordar contigo se você tiver razão e ... se não tiver, discordar com carinho Cozinhar, se você comer e ... comer se você cozinhar Dividir as tarefas domésticas ou... a conta da faxineira Amar seu cachorro ... se você me amar mais do que a ele Partilhar meus pensamentos bons e maus, valorizando mais os primeiros Não ter apenas problemas e coisas chatas para partilhar Segurar a barra quando você não segurar, se você fizer o mesmo Segurar sua mão no avião... enquanto você segura a minha Sempre te fazer companhia no elevador, pra você não se sentir sozinho Ter o prazer que você puder me dar e ... te dar o prazer que você puder sentir Sorrir pra te deixar alegre Chorar pra te lembrar que sou humano Errar, com o desejo de acertar Te cobrir em noites frias, enquanto você dorme Fazer música ... se você ouvir Escrever poesias, se você se emocionar Ir a Parque de Diver

Gênese do Eu - O Beijo de Deus

O Beijo de Deus Da tua boca provém Toda poesia, Ela flui de ti para Mim, Que ébrio pela tua saliva Narro, entre chuviscos de cuspes, a tua suprema mágica, a de beijando-me, jamais me tocares. Oh, tu! Divindade nefasta! Que fecha para mim O teu único olho! Deixando-me em treva Íntima e verdadeira. Obrigando-me a guiar-me Pelo teu ósculo sorumbático. Estranha a minha sina, A de chover sobre os homens Restos de tua e minha saliva, Ao mesmo tempo sem saber Por onde ir. Se ainda tu fosses perfume, Se fosses luz, ruídos, Qualquer coisa que Uma direção indicasse... Mas, és boca, de doce saliva amarga, Que me inunda, inebria, E que com chuviscos de cuspes respinga sobre os homens. Que seres felizes, que não têm que tomar dos teus lábios a seiva que mantém vivo, que seres felizes... contentam-se com cuspes chuviscados... e a mim... a mim resta o beijo.... uma troca estranha que nunca se completa, porque tu não me tocas. Plenitude Se me perguntam por que uma árvore nasce... Eu não sei porque.

Sina de Gigante

A Cama Quando me deito, dentro de mim, minhas pernas ficam pra fora meu tronco, meus braços, ficam pra fora... Minha cabeça à grande distância... Que destino! Ter no corpo uma cama Tão pequena. Sina de Gigante Isso é o que eu digo para o meu corpo: Levante-se! Isso é o que eu digo para mim! Mas quando todo eu me levanto, minha cabeça ultrapassa as nuvens E, não há ninguém para eu poder olhar nos olhos. Sina de gigante... Chá das Cinco Sento-me no chão Através da atmosfera olho as estrelas, Ainda distantes... À minha frente o Everest. Não resisto, E desejo tomar chá. Sirvo-me das águas quentes De um vulcão, Forro a montanha com meu lenço... Está pronta a mesa... São cinco da tarde e, Ninguém veio. Penso até ter visto alguns homens Tentando me alcançar... Morreram no caminho, ou Se desiludiram na escalada. É sina de gigante... Possuir todo o planeta, Gentil, vasto e manso, Mas não ter ninguém para o chá. Pisando Estrelas Toco o sol, E o pego com uma das mãos; Escondo-o em meu bolso e

A Dor da Solidão

Quando a dor me procurou Quando a dor me procurou, disse-lhe: Estou ocupado, deite-se ali! Ela deitou-se em minha cama e aguardou... Quando a solidão me procurou, disse-lhe: estou ocupado, deite-se ali! Ela deitou-se em minha cama e aguardou... Como eu tardava, as duas devassas entregaram-se...entregaram-se dias e noites sem fim... Quando enfim deixei meus afazeres... lá estava o seu fruto sobre o meu leito: a amargura. Não era minha filha, era filha delas, no entanto, foi gerada em minha cama... Quando invadido pela fome, saí em busca de alimento, eis que enfim chega o amor; e não me encontrando, deita-se com a amargura, e nela faz um filho: o desespero... Agora que ele habita a minha casa é inútil voltar. Os Cães Os cães dormem, dormem...dormem... Não adianta dizer-lhes que a alvorada se anuncia, nem tentá-los com alguma guloseima... Dormem...exaustos, Numa parte da noite latiram sem cessar, trocavam mensagens entre si... perturbavam o sono dos que lhes eram diferentes... Rosnavam p

Filípicas

Filípicas Este caderno de poesiasé em memória a uma juventude que conheci e se foi. As vezes a beleza e o encantamento habitam tão fortemente um corpo, uma pessoa, que sou obrigado a fazer poesias. Seja lá onde vc estiver...estas são as suas pegadas no meu caminho. Poema I Só quem amou... Prendeu o tempo com as mãos e, engoliu-o cobrindo-se de eterno e de desespero... Só quem amou... Encontrou paz no adverso... Soube escorrer pelo infinito como as águas de um rio e, no mesmo instante ser represa... e ser desejo... e ser frustração de desejos... Só quem amou... Sabe o que é contar estrelas com os cabelos... Andar do avesso e, odiar plenamente a liberdade Só quem amou ... Se fez pauta, música e instrumento... E ainda assim não foi ouvido e, não se perturbou... Quem faz os astros inatingíveis? Quem faz a noite escura? Quem faz úmida essa água? Quem faz eterno os pesadelos e os sonhos? Quem faz todo o mundo girar como se fosse um só? Quem faz todo o universo sangrar sem feridas? Quem

O Cavaleiro e a Flor

A Flor e o Guerreiro Eu menti, entende? Eu menti... Eu não era o guerreiro Que levava a flor na mão, Eu era a flor na mão do guerreiro... Riacho Porque sou o riacho que se atira, ao infinito dos céus, da altura dos montes, És o leito rochoso a suavizar minha queda, conformando meu curso, Para que não dilacere a terra. Repouso Escutei todas as vozes, Caminhei por todos os corpos, Mas, no teu espírito O meu encontrou descanso E assim... Meu corpo tornou-se feliz. Harmonia Se as notas que assoprava em minha flauta, até agora eram Dispersas, você as transformou em melodia. Precedido Desde de já invejo a luz Que entra pelos teus olhos, O aroma pelo teu olfato O frio e o calor que tocam A tua pele...e, meu Deus! Que vento é este que desmancha Teus cabelos? Por enquanto sou apenas a voz Que procura teu ouvido Em breve desejo ser tudo para o teu corpo. União Sou Orfeu e tu És Eurídice... Sou alma e tu O anseio que nela habita. Delicadeza Meu amado vi como os juncos, à beira do rio incl

Casa de Aborto: Criança Feliz! - Vilhena Marco-zero

Início da viagem Para quem tem tantas opções, o terror parece ser a mais segura delas. Tão claros são os olhos dos que partem... Radiosos em direção ao futuro... Incertos... e... despertos Para quem tem tanto... Tão pouco é restado, Tão pouco... Tão pó, Tão circunstanciado. Desejos não são mais do que sombras do passado. O futuro é o deleite dos tolos... Início II O garoto de Itápolis que se olhava na vidraça Ainda se olha na vidraça... Ainda encontra seus próprios olhos refletidos, Num dia de chuva... O garoto que se via Aina se vê... E seus olhos cheios de medo.. Ainda estão lá... Fitando-o...na mesma medida que os olha. Incapaz de ver atravésdos vidros.. Incapaz... Pára diante de seus próprios olhos... Pára.. E nada mais vê. Tem medo de si? Tem medo de ver mais? Tem medo? Será que é a chuva que não pára, Será que são os olhos, Será, enfim, apenas o menino? O garoto de Itápolis que se olhava na vidraça, Ainda se olha... Ainda se olha.. Ainda se olha... E tem medo, E tem dor... E ..n

Loreley dos Rochedos - Canção do último adeus

Todas as minhas inuteis frases, desfilando, como drags-queens, num palco recém-armado...e essa chuva, que de tão chuva o céu escurece, enfeitando o espetáculo com ares de tragédia... Se ao menos um travesti apresentadora, pudesse dizer qual o próximo número, se tempestade ou se - por caridade - dançassem todos uma dance-music... Mas, esta salvação siliconada neste instante não aparece... Tenho de ouvir toda a chuva que cai, e cai, e desaba sobre mim minhas soluções inúteis. Nem da prostituição sagrada este michê - de meu coração - escapa de cobrar pesada dádiva. É por amor que este espetáculo patético, traz à luz essas salvas de ilusão, salmodiando pôças d’agua, lama e solidão, quando terminada a farsa. Eu te espero, como quem guarda um segredo E reparte em mil gotas desesperadas de coração batendo, Todos estes achados de ingratas flores despedaçadas. Como quem tropeça e cai sorvendo medos nas escadas, Eu bebo essas gotas, mal disfarçadas de tuas fotos pardas e amareladas... E toda

Para O que É Próprio do Ser Inumano ou Memórias de uma fragmentação

Apresentação Antes dessa apresentação havia uma outra, que certamente o Delete cotidiano apagou, onde eu me desculpava continuamente por tentar fazer reflexões e ao mesmo tempo menosprezava a minha poesia. Ainda bem que se apagou. Não costumo sair por aí dizendo oque é certo ou errado, e seria uma grande tolice minha tentar escapar às críticas retirando dos leitores mais ácidos a sua principal arma: o dizerem que não faço poesia. Não desejo mais escapar de nenhuma crítica e nem ser sua vítima, no entanto, saibam que faço poesia. E faço não por que possuo a técnica mas sim por que a poesia me possui. E ela faz isto da mesma forma com todos os poetas, sejam bons ou mediocres, arrancando para fora de suas almas este grito de existência. E nesta surrealidade por onde navegamos, nos ensina a mascarar ou desmascarar a realidade encontrada, a humana realidade...Extrapolar essa condição, exatamente quando se volta para ela, é próprio do poeta. Muitas vezes desvelar máscaras não signi