Paixão da Pathé - Ferdinand Zecca, 1902
Muita gente já escreveu, pensou e leu sobre o Natal... Em geral nós andamos reclamando que ele perdeu seu significado, que está tudo deturpado, que as pessoas só pensam em comer e beber, que se esqueceram do aniversariante, etc.
Bem, então, pensei, por que não buscar o significado do Natal?
Pensar este dia como uma data de comemoração de aniversário, parece ser uma idéia que já fracassou. Funcionou em algum momento, mas agora já não é mais suficiente. Pensar que é o dia consagrado a Mitra, o Sol invencível, e absorvido pela Igreja Católica, também não ajuda. Não pode ser verdade, que o dia dedicado à lembrança do nascimento do homem mais importante do ocidente, esteja perdendo seu significado, sua importância para um Chester, um pernil, um peru... Muitos de nós pensamos nele todos os dias, uns até conversam com ele; outros não conseguem viver sem ele, e outros apesar de tentarem não conseguem ignorá-lo...
Tudo o que diz respeito ao Natal nos parece coletivo, talvez tenha nos sido ensinado assim... Comemoram essa data como um momento de Amor, fraternidade, solidariedade, troca de presentes... mas não é, não pode ser, por que se não ela não perderia o seu sentido... Também quiseram que comemorássemos com o momento em que o Nosso Salvador veio ao mundo para nos libertar do pecado... sinto que esta agora soou no vazio...
Senti então que se houve ou há algum significado, ele só poderia ser muito subjetivo, muito individual. Achei então que eu deveria buscar em mim o motivo real para comemorar, não aquele que me ensinaram, mas aquele que está por trás da minha fala quando digo que o Natal perdeu o significado, o que eu quero dele afinal?!
Conhecer Jesus Cristo só pode ser um aprendizado, e algo experienciado, ao longo dos anos. Lembro-me de minha mãezinha, segurando minhas mãozinhas postas, uma em direção a outra, em ato de oração e me ensinando O Pai Nosso, antes de eu ir dormir. Era difícil lembrar das frases...às vezes eu as trocava, mas rezar direito e antes de dormir, era uma necessidade... Minha mãe pacientemente repetia as palavras comigo, sorria, corrigia e começava de novo. Acho que Deus, se ouvia, achava graça.
Quando mais tarde comecei a ter medo de escuro, era na oração que eu confiava, e era para Jesus que eu orava, até adormecer, ou correr pra cama da minha mãe. Então, Jesus, que era muito desconhecido para mim, era alguém poderoso e forte o bastante para afastar todos os monstros, inclusive o maior deles, o meu medo. Era ele quem me reconfortava para dormir seguro, quando dezenas de olhos me espreitavam à noite, quando ruídos estranhos teimavam em se repetir pelo meu quarto, era ele que me acalmava, mesmo quando a oração parecia ter falhado e todos os espíritos maus continuavam ali.
Na Igreja, eu aprendia a ler as imagens, e elas eram sobre Jesus. Eu via cenas que eu ainda não sabia o que eram, e ficava basbaque com a beleza, e curioso para saber, o que eram, por que estavam ali. No teto, na nave principal da matriz, desenhos de âncoras, navios afundando, cordeiros estranhos, segurando uma bandeira esquisita no bracinho, pessoas se afogando, nuvens, céu e sol, e aquelas lindas criaturas adornadas de asas, que mamãe me ensinou cedo serem anjos. Os anjos da Guarda. Tudo era mistério... o desconhecido sussurrava para mim naquelas pinturas, encantava... e ficava chamando: vem... vem... E eu segui, e isso mudou o rumo da minha vida.
No início da puberdade, com as naturais dificuldades de desenvolvimento sexual, sem ter com quem falar, nem para quem pedir ajuda, era com ele que eu falava, mesmo que tudo parecesse estranho, pecado, esquisito e que não era para ser falado com ele, mas... eu não tinha mais ninguém... Então nessas horas ele me pegava no colo e eu chorava...até ele me dar paz.
Quando a pobreza e a miséria eram tantas que não sabíamos o que íamos comer... bem, era para ele que minha mãe rezava e pedia... E, sempre dava certo, pois conseguíamos pegar uns peixinhos na beira do rio. Quando a morte em família nos abatia era a ele que nós amávamos e culpávamos, até conseguirmos novamente sorrir.
Quando fiquei mais adulto e estudei tudo o que pude sobre Jesus Cristo, ele ficou distante, ficou velho dois mil anos ou mais. Já não podia chamar seu nome sem me auto criticar, já não podia ter medo de escuro, por que ele não viria para me ajudar... O mundo tentou arrancá-lo de mim com muito mais força do que tentou me o dar... A confiança cega na sua presença acabou... Mas, minha necessidade dele era tão mais forte que acabei criando razões sólidas para a sua existência e permanência, e ele deixou de ser crença para se transformar em realidade.
Quando desejei fazer meu melhor trabalho, era ele quem estava lá...
Enfim, quando tive medo, ele me protegeu, quando sofri me confortou, quando errei me levantou, quando precisei de sentido na vida ele me o deu, quando preciso de companhia, ou sofro por solidão, ele está comigo. Estranhamente, jamais orei para os santos e nem para a virgem Maria, sempre foi Jesus...
Então, para eu sentir o que é Natal, para eu saber qual o seu significado, imaginei... fiz muito esforço, imaginei a minha vida sem tudo isso, imaginei um momento onde ele não estivesse... E foi como se eu sentisse toda a dor e solidão do mundo, só que sem fuga, sem esperança... Aí eu soube o que era o Natal, foi um momento muito antes de mim, que garantiu que alguém, que nem era nascido ainda, pudesse ter paz, conforto, amor e esperança; e que no meu caso, não era coletivo, pois muitas vezes... as pessoas não queriam estar comigo, então...éramos só eu e ele. É isso o Natal na minha vida, o momento em que ele nasceu para mim e para o mundo. Ele é a luz nas trevas, o caminho dos sem direção, á água viva dos que têm sede de vida. O único amor dos que não têm um amor, a paz dos ansiosos, me deu o mundo, mas deixou claro que não pertenço a ele e sou seu.
Para mim, as frases que serão sempre Natal em meu espírito: “os sãos não precisam de médico...” e “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados que eu vos aliviarei, pois leve é o meu fardo e suave o meu jugo...”
Feliz Natal! Comamos nossos perus em paz, ele não está nessas coisas. E nem a comida e nem as bebidas, nos fazem mal, pois “o mal é o que sai pela boca do homem...” O Natal para mim agora é um momento, um momento de profunda intimidade entre eu e ele. Que olhando para dentro de si você possa também encontrar o sentido e o significado do Natal. E obrigado por serem meus amigos, pois por amá-los e querer dizer coisas boas para todos vocês, pude olhar para dentro de mim e estar mais feliz. Os amigos são o espelho do que somos.
Luiz Antonio Vadico
Comentários
Ah, o Natal...
Embrulhado numa caixa enfeitada, levado às mãos de cada um, sem requisição de compra, sem efetuação de pagamento, o Natal nos vem pré-fabricado, um produto “Monte Você Mesmo!”.
A maioria, em deslumbramento, retira o conteúdo de dentro e esquece o manual lá no fundo. Diante dos pedaços espalhados - encantados de possibilidades, inicia-se a montagem numa boa intenção, mesmo sem a devida instrução.
Por vezes o artefato aparenta-se montado, porém resta uma peça (só)çobrando-se no chão. Pode ser que todas as peças sejam utilizadas, porém a imagem montada não reflete a fotografia na embalagem estampada. Alguns de senso bom talvez até consigam êxito.
Entrementes, o modo de uso não se dá por intuição (embora haja quem assim proceda), a descrição do funcionamento está no manual de instrução, não lido e esquecido na caixa provavelmente jogada no lixo.
Revire o lixo, encontre a caixa. Caso ache-a, leia o manual. Quem sabe você entenda a montagem, o uso e a função do Natal.
(O entendimento varia conforme a interpretação.)
Minha caixa foi carregada pelo caminhão antes que eu pudesse recuperar o manual...
Já que porções de felicidade nunca empanzinam - mesmo assim sendo assim - desejo-lhe um feliz Natal!
http://passarinhonagaiola.wordpress.com/
karina viega