Aquele
cara que se acostumou a ficar em segundo plano, pois a mãe estava em primeiro
lugar. E que só aparecia nos finais de tarde, sempre ausente, e quando
presente, mal disfarçando o cansaço; parecendo má vontade. Alguém que você
esperava o dia todo para ver e falar, contar as novidades, mas estranhamente
ele só dedicava um “que legal” pra você.
O
cara que a sua mãe defendia dizendo: Está trabalhando. Ou, “seu Pai não presta!
Está bebendo, enquanto fico aqui cuidando de vocês, está com outra!” E que num
divorcio não tem direito preferencial a ficar contigo, mesmo que mereça.
Ele
era o chato que dizia que a vida é dura e que você deveria se preparar. É o
mesmo homem que tentou te levar para o trabalho com ele, e te apresentou para
aquele monte de amigos chatos, inutilmente sem conseguir despertar a sua
vocação (que era ficar com a mãe).
O
Pai, na sua adolescência, foi aquele covarde, vendido ao sistema que nunca
peitava o patrão ou que era subserviente aos clientes. Macho dentro de casa,
mas um vira-latas nas ruas. E, o mais terrível, o homem que “pegava” sua mãe, e
você não entendia como aquela grande mulher se entregava para aquele banana panaca.
Ele
foi o homem que traiu sua confiança, que esteve ausente na maior parte do
tempo, traiu sua mãe e as expectativas dela, e nunca lhe deu o que você
desejava. E se dava, era julgado como um chantagista.
Pai,
o cara que conseguia dar a viagem de férias e estragá-la com seus comentários e
suas ações. Aquele que proibia tudo, e com o qual sua mãe o ameaçava.
Foi
ele quem inutilmente o incentivou a ser igual, mas você não queria isso.
Desejava ser melhor, ou pior, mas nunca igual. Se ele era bem sucedido, você o
via como um arrogante infinito em suas gabolices e chatices, se não era, você
se envergonhava e não entendia por que justamente um ser superior como você
tinha aquele traste como progenitor.
Ele
é a pessoa que tentava participar da sua vida, mas todo mundo cortava as suas
falas e ignorava. Foi, era e é o cara que quando tentava falar “eu te amo” era
interrompido por qualquer coisa; e você achou que ele não disse. Sobrou o
silêncio.
Sobrou
o Dia dos Pais, no qual, constrangidos pela mídia, moda e sociedade,
telefonamos e tentamos dizer alguma coisa. E quando ele ganha presente é
carteira, cinto, sapato, roupas sempre iguais... Nada de show de Rock, nada de
convites legais. É como uma formalidade triste que devemos cumprir como filhos
e ele como Pai. Por mais que tenhamos conversado e perguntado, ele continua um
desconhecido.
Dele
só vimos o que fez, não o que sentiu e nem o que pensou. E quando eramos
jovens, tudo o que ele sentia e pensava, era exatamente o contrário do que
desejávamos.
Bem,
agora que você é um homem (ou pessoa) adulto já sabe quem ele é e foi na sua vida.
Vai lá, dá um abraço nele.
O
Pai, é aquele cara que você só compreende quando passou por tudo o que ele
passou. Quando ficou adulto de verdade e conseguiu saber onde ele estava todo
este tempo. O cara que você só conseguiu valorizar quando pôde fazer a crítica
da mãe (alguns nunca fazem). Ele estava ausente por que estava cuidando de você
e da família. Estava cansado para se divertir contigo por que estava
trabalhando. Se entregou ao sistema – não por que não tivesse sonhos – mas por
que você precisava comer e construir a sua vida. Ele se calou para que você e
outros familiares falassem, se negou para que você se positivasse.
O
Pai, diferentemente da Mãe, é a pessoa que você aprendeu a amar com o tempo.
Não foi imediato. Você tinha medo, respeito, carinho, dúvidas, anseios,
cobranças, mas amor... O amor verdadeiro só veio depois quando você soube o que
era o mundo e as pessoas, olhou para aquele resto encarquilhado que ficou em
casa, e pôde lhe dizer: foi por mim Pai que você se apagou mesmo parecendo
brilhar.
Neste
dia vai lá, lhe dê um abraço, se conseguir, um beijo, se puder um “eu te amo”
constrangido num abraço estranho.
Feliz
dia dos Pais, para estes caras que se esvaziam de si e pouco ou quase nada
recebem em troca.
Numa
sociedade onde o Pai de Jesus (José) era figurante para Maria, e o outro Pai
dele, inalcançável, parece que repetimos comportamentos.
Vamos
lá, o seu Pai, não é o progenitor de Cristo, e sua mãe não é a Virgem Maria; os
dois sabem disso, não seja você o último a saber. Vá lá! Dê um abraço no homem
que em primeiro lugar mostrou o que era o mundo e as pessoas pra você e que com
o seu exemplo te preparou para não fazer feio demais.
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